Hoje, em uma sala de espera de um consultório médico em Blumenau SC, um casal e um homem conversavam em voz alta, assuntos desagradáveis. Tentei abstrair daquilo, e distrair a pessoa a quem acompanhava. Até que eles ficaram em silêncio.
Olhamos para a tv vagamente, admirando a iniciativa de uma mãe que soube apoiar o filho com necessidades especiais. E antes que eu respondesse a uma pergunta de quem estava comigo, a senhora do casal se antecipou e respondeu.
Daí o casal começou a descrever vivamente sua própria vida em voz alta e à distância. Comentaram o quanto queriam netos, mas de como o filho estava certo em se acertar primeiro, após duas faculdades e pós. Filho deles que estudou, ele trabalhador do campo, ela que começou como servente, foi estudar e chegou a enfermeira. E como estava sendo difícil para a mulher superar a descoberta de que o pai biológico do qual cuidara com carinho não era seu pai verdadeiro, como a irmã revelara pouco antes dele morrer. Nesse embalo, ele já estava de pé, falando. E falaram muito.
A essas alturas, minha opinião sobre eles já havia mudado. Nem somente pela história que contavam. Mas porque a contavam de uma maneira tão apaixonada, o homem com uma admiração tão grande por sua mulher.
Os olhos claros dele olhavam para ela derramando afeto e reconhecimento, enquanto a boca dizia o quanto ela era querida por todos que trabalharam com ela, agora já aposentada.
Ele foi chamado para a consulta e ela nos pediu desculpas pois devia acompanhá-lo. Voltaram e ao invés de irem embora, sentaram ao nosso lado, contando detalhes familiares nem tão felizes. Mas eles, eles esbanjavam superação e vitalidade. Nos fizeram esquecer nossos problemas por algum tempo. Foi bonito e bom.
Eles estavam para a vida.
Marcadores: amor, superação, vida