quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Aproveitadores e Professores

Estudei quase a vida toda em escolas e universidades públicas. 
Tive ótimos professores e professoras, idealistas, competentes e perseverantes.
Infelizmente tenho a certeza, não receberam o reconhecimento financeiro que mereciam.


Já formada como atriz, cursei a licenciatura em Artes Cênicas (sonho da minha avó querida) e passei em concurso para uma ótima escola pública municipal, com um diretor maravilhoso, José Mauro da Silva, que favorecia autonomia, multidisciplinaridade inteligente, criatividade e respeito. 


Meus/minhas colegas eram comprometidos com essas bases de trabalho. Cada um dos 240 alunos da série a que dávamos aula era acompanhado por nós. Isso foi logo antes da política de aprovação automática, em 1993. 

O problema é que eu gastava o equivalente a 5h entre ir e voltar de ônibus e a remuneração, bem... não é preciso dizer nada. Resumindo, parei de dar aula na escola pública.

Depois, tive a oportunidade de lidar com professoras e professores incríveis por conta do projeto de vídeo que coordenava no Museu da Vida, na Fiocruz. 

O projeto demandava tempo e disponibilidade por parte dos professores, a começar por uma oficina sem ajuda de custos.
Antes de sua implantação, alguns achavam que eles não participariam. 
Participaram. Inclusive pediram aumento da carga horária da oficina. 

Alguns achavam também que os professores não conseguiriam levar suas turmas para passar um dia inteiro no projeto. Conseguiram. Muitas vezes em ônibus de linha. Quem já passou por isso, sabe o que significa.
E eles voltavam com novos estudantes. 
Fizemos assim mais de 80 vídeos, muitas oficinas e várias mostras, participações em festivais e congressos.

Na história de todos esses professores, um traço comum e injusto: a necessidade de confundir a profissão com missão para realizar o que os alunos precisavam. 

E isto muitas vezes à custo da atenção à família, ao lazer, à própria saúde. 
Se não fosse assim, não saía. 

"Problema seu, pra que escolheu esta profissão?" 
Quantos professores ouviram esta frase? 
Certamente não é a única categoria a ouvir. O pessoal da saúde e outros profissionais que tem a abnegação como companheira também ouvem. 

Mas o quanto nós, como sociedade, nos aproveitamos desta abnegação?
E se subíssemos o nível, ouvindo o que eles - a eficiência, a abnegação, o idealismo - nos exigem em termos de investimentos concretos e simbólicos? Que Saúde e Educação teríamos? 
Deixaríamos de nos aproveitar deles e passaríamos a aproveitar com eles.

Um professor competente que dormiu bem, com suas contas pagas, atualizado vai ter condições de exigir melhor. E isso não vai ser melhor também para seu estudante, sua comunidade, seu país? 
Será que aguentamos nivelar por cima?

Muito se fala de capacitação dos professores, muito se fala do baixo nível de ensino, e sobre esta categoria pesa o ônus centenário da desvalorização simbólica e material, uma alimentando a outra. 

Há muito do que reclamar, é o lugar comum.  E se reclama com razão.

Mas enquanto não houver real valorização, não vamos ultrapassar a equação em que o "faz de conta que aprende, faço de conta que ensino" de uns, serão mais significativos que o comprometimento e a dedicação de tantos. 

Com um detalhe: os que fazem, não tem tempo nem disposição para discussões estéreis. 
 Estão muito ocupados construindo com seus estudantes, um país melhor, a despeito dos ismos, dos políticos, das estatísticas, dos interesses variados que os circundam. 
E o país pode ser melhor ainda se essa construção não se restringir às  salas de aula.


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Para começar bem a semana


serenidade
respirar
perseverar
manter a Luz acesa
a iluminar