O censo esteve aqui em casa e perguntou minha cor. Sei que no documento está escrito branca. Mas olho para mim e vejo uma pele morena. Aliás olho para muita gente e vejo morenos e morenas de todos os tipos e gradações. No entanto, essa opção de morenice não existe para o IBGE.
Para o IBGE só existe a possibilidade pardo. Pardo? Papel-pardo, fralda com cocô de neném, de noite todos os gatos são pardos. Só isso me vem à cabeça quando ouço pardo. Pergunto à recenseadora o que é pardo? Preto com branco? Porque aí falta o índio... Ela me responde que não. Pardo é a cor brasileira. Tá, quem decidiu isso? Certamente não foi o Sergio Buarque. Talvez alguém trancado em escritório com uma luz fria encima olhou para si e viu uma aparência entre o abatido e o encardido, lembrou do Jeca Tatu subnutrido na outra ponta da situação somou e dividiu por dois encontrando o famigerado pardo.
E o som "pardo" me chega desagradável no ouvido. Pardo soa feio. Moreno soa bonito. Morena soa bonito. Negro soa bonito. Amarelo e Branco ainda estou pensando. Mas pardo?
Imagina a música "esse corpo pardo, cheiroso, gostoso que você tem..." nem nas maravilhosas vozes da Gal ou do Nei isso ia funcionar. Ou então: "Parda de Angola que leva o chocalho amarrado na canela..." Ui, Chico!
Não me sinto parda. Me sinto morena.
E assim descubro que o problema de identidade no Brasil começa pela fonética.
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