terça-feira, 3 de maio de 2011

Tem que ter quadril


José Renato e elenco em "O Telescópio" de Jorge Andrade, Uni-Rio, 1984.

Li a carta de Oswaldo Mendes no Portal Macunaíma e fiquei emocionada, mais do que isso, senti meu coração mais leve. Partir em uma fase de felicidade em cena parece deixar o espírito pronto para voar. José Renato Pécora , ou simplesmente José Renato, gostava de deixar o público com um gostinho de quero mais. Reproduzo aqui trecho da carta, para quem quiser lê-la inteira (vale a pena)
José Renato, que voltou a atuar como ator depois de 56 anos, estava em um momento feliz. O sucesso de " 12 homens e uma sentença" é, especialmente, o sucesso dele que, por ter feito a sua trajetória no teatro como diretor, desde que criou o Arena, não tinha provado o reconhecimento das plateias, em especial dos muito jovens que assistem ao espetáculo. Reconhecimento que agora ele experimentou com uma alegria juvenil que nós, que dividíamos o camarim com ele, testemunhamos nesses sete meses de temporada. O Zé ria, fazia e provocava piadas, formava o nosso coral que todas as noites desengavetava um repertório de músicas do passado, em exercício de puxar pela memória. Era assim o "aquecimento" e a "concentração" de rotina antes do espetáculo. Uma noite, de tanto rir das brincadeira do Riba, do Norival Rizzo e da Ieda, nossa fiel camareira, ele desabafou com um sorriso largo: "Vocês ainda vão me provocar um enfarte de tanto rir". Na sessão deste domingo, ele trocou uma palavra do seu texto, que só o elenco percebeu. Em vez de dizer "o velho queria um pouco de atenção" ele disse: "o velho queria um pouco mais de tempo". Me fugiu a palavra, ele se desculpou sorrindo no camarim ao final do espetáculo. Pois é, tanto ele como todos nós queríamos um pouco mais de tempo para o nosso encontro. Não fomos atendidos. Fica em nós a saudade, que dói demais. Mas fica também a certeza de que José Renato marcou definitivamente o teatro brasileiro - e, em particular, marcou a vida e o caminho de cada um de nós.
Obrigado, Zé.
Do amigo e discípulo Oswaldo Mendes


"Tem que ter quadril", dizia ele ao elenco, pondo as mãos na cintura e rebolando, onde os outros diretores na época diriam "falta tesão". Era impossível não aprender com aquele jovem de cabelos brancos, lépido, aceso, que tinha dirigido a incrível Rasga Coração de Vianinha.
A peça era "O Telescópio", de Jorge Andrade, autor que ele gostava muito. O ano era 1984, o lugar era a Uni-Rio e ele me instruía a fugir do Leo Jusi (Deus o tenha também), que podia me impedir de fazer a montagem pois eu estava apenas no 2º período. Angela Reis não pôde fazer e me indicara ao Zé, que bancou essa pra mim. E fiz a peça. Foi bom estar nas mãos do grande Zé Renato.
Não foi a única vez, em 1987, no Teatro Ginástico, ele nem me imaginava para o papel, mas Claudinha Valli, na época sua assistente de direção insistiu, Angela Vieira, estrela do espetáculo, apoiou, fiz teste e passei. De mãe fazendeira virei telefonista saidinha. A peça era "Camas Redondas, Casais Quadrados", de Cooney e Chapman, um vaudeville que ele dirigiu diversas vezes com a prática que o caracterizava. Mas acho que na faculdade ele se divertiu mais.

Adoraria tê-lo visto em cena. Claro que era excelente ator. Como era ótima, querida, adorável pessoa... Agora só devo encontrá-lo aqui, no meu coração...


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2 Comentários:

Anonymous Anna Maria disse...

Zé Renato vai deixar muitas saudades. Pessoa incrível, ele era. Aprendi muito com ele e agora vou aprender ter saudades. Vai fazer falta para o Teatro do Brasil. Fiquei orgulhosíssima quando ele dirigu a leitura de uma de minhas peças. O ensaio foi no apartamento dele em Copacabana e Ângela Valério, mulher dele, leu a protagonista. Linda voz a dela. Como é triste saber que ele não está mais aqui

8 de maio de 2011 às 12:29  
Blogger Duaia Assumpção disse...

Diretoria do Sated Manda Celebrar Missa de Sétimo Dia para ator José Renato Print E-mail
Friday, 06 May 2011 16:42

A diretoria do Sated RJ mandará celebrar uma missa de sétimo dia em memória do ator e diretor José Renato. Será na Igreja da Ressurreição, terça-feira, dia 10 de maio, às 19h30, na Igreja da Ressurreição, na Rua Francisco Otaviano, 99, ao lado do Parque Garota de Ipanema.

8 de maio de 2011 às 18:12  

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