Guardando a Paixão
Esse ano ,a quarta feira foi dia de se despedir de quem ia viajar, já que o feriado juntou Tiradentes, Semana Santa, São Jorge.
O dia do índio na véspera já tinha passado em brancas nuvens, mesmo com sangue vermelho dele correndo nas veias.
Daí que a gente dizia "Bom feriado e boa Páscoa". Falei isso para várias pessoas, mas a cada vez que falava me dava um estranhamento.
Era como se assistisse a um filme começando pelo final. E nessa, ignorasse toda a trama e com ela, todo o sentido. Como se não digerisse esse momento especial da Semana Santa.
Talvez seja a tal religiosidade, talvez influência de "Homens e Deuses" que assisti ontem.
Pra mim 6ª feira da Paixão sempre foi um dia reflexivo.
E descobri que essa reflexão me faz falta. Um tempo de silêncio e recolhimento para tentar digerir parte do que fica entalado ao abrir o jornal, ouvir as notícias, estar no mundo.
Quando era menina, era dia de não ouvir música, de usar cores discretas, de estar em casa, dar um tempo. Geralmente chovia na 6ª feira da Paixão. Fácil lembrar isso, porque feriado com chuva marca.
E na primeira vez que fez sol, marcou também, pois fomos à praia na Barra, dia de mar estranho no qual um colega de escola, xará de meu pai, se afogou. Ainda bem que não morreu.
6ª feira da Paixão parecia um dia interminável.
Pois descobri que esse tempo me faz falta. Uma meia trava na velocidade, no consumo, na busca pelo prazer, na overdose de informação. Se não precisasse desabafar, ordenar esse sentimento, nem blog publicava. Era dia sem jornal...
Quase nada parou. Hoje em dia não há tempo. Nem pra sentir.
Especialmente se o que se sente é o vazio. E a esperança de que ele seja novamente preenchido no domingo de renascimento.
Sinto que preciso desse tempo.
Marcadores: 6ª feira da Paixão, Páscoa, tempo
1 Comentários:
Bonito! As lembranças vêm que é uma beleza! Na boa? Eu tinha pavor da morbidez de ter que ir na Igreja São José (na Jardim Botânico um tempo, e depois na Lagoa) para beijar o pé daquela imagem horrorosa de Jesus flagelado na caixão... CREDO! Nojentinho aquele pé beijado por todo mundo... UGH!...
Mas de todo mundo parar para pensar um pouquinho eu achava bacana. Por isso o repito com ou sem Semana Santa; TPM sempre foi uma ótima ocasião para esse exercício. Agora, as TPMs se foram, mas o exercício ficou. Você, que é poeta, faz o exercício por gosto, que eu sei...
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