Sexta-feira da Paixão
Quando era menina, a Sexta-feira da Paixão era um dia estranhíssimo, no qual tudo estava fechado, sombrio, silencioso, roxo.
No Grajaú não se ouvia um rádio, uma música ao andar pelas ruas. Era possível ver algumas senhorinhas com véus escuros cobrindo o rosto e terço na mão. Até o futebol dos meninos era meio tímido, discreto, sem a gritaria habitual.
Sempre chovia na Sexta-feira da Paixão.
A primeira vez que me lembro de fazer sol, eu já estava no fim do ginásio, como se chamava então o que hoje é o "segundo segmento do primeiro grau".
Fomos à praia na Barra da Tijuca. Era dia de mar forte e correnteza.
Mas a praia estava uma delícia.
Uma sensação de heresia se fortaleceu após um colega se afogar e ser levado pela correnteza. Ele tinha o mesmo nome de meu pai. Por sorte se salvou. Depois disso, passamos a ir à praia com um pouco mais de cuidado, por via das dúvidas, se fazia sol num dia como esse.
E à noite a emoção ao ver no Jornal Nacional as imagens da Paixão de Cristo em Nova Jerusalém, os tapetes de Flores de Minas Gerais, as procissões, o movimento no mundo.
Dormir pensando se alguém malharia o Judas perto de casa, mesmo sem entender muito o sentido cristão disso. Para ver algum Judas malhado, sempre era necessário convencer meu pai ou minha mãe a dar uma volta de carro pelo bairro, e lá longe, já em seus limites, encontrávamos alguns em postes, bem perto do Andaraí.
Era um alívio quando acabava a 6ª feira da Paixão.
Marcadores: 6ª feira da Paixão, praia
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