Vôos
Como pôde ter desaparecido?
A primeira notícia criou um estarrecimento. Então ainda é possível desaparecer hoje em dia? Creio que em tempos de gps, internet, email, radares, satélites, controles, celulares, caixas pretas, nosso imaginário sutilmente vai se modificando e não conseguimos imaginar que uma coisa grande como um avião possa desaparecer assim, puf! Cresci quando o mistério sobre o Triângulo das Bermudas fazia parte do tal imaginário. Havia lugares assim no mundo. De repente, alguém/algo desaparecia lá. Naquela época também se falava de Atlântida. Os únicos desaparecidos de que nunca ouvi falar na infância foram os desaparecidos políticos. Estes só ocuparam meu bendito imaginário no fim da adolescência. Mas essa já é outra história.
Será que o susto vem de pensar como tanta tecnologia sai do controle?
Como pode tantos morrerem de uma vez só, sem defesa?
Sim, isso choca. Mas não pode chocar menos que os flagelados do Piauí, Maranhão, Santa Catarina, e outros acidentados de norte a sul do Brasil e do mundo.
Pelas filosofias espiritualistas, se diz que fizeram a passagem, e ninguém pode afirmar que não seja. E neste caso, outras perguntas surgem, no próprio seio das filosofias. E então somente Sócrates para dar conta: sei que nada sei. Mas tenho esperança.
Dar de cara com o efêmero da vida?
Esse é um contínuo processo de lembrança e esquecimento, e sem essa dualidade acho que ainda não conseguimos viver, amar, sonhar, construir. O "até já" é fundamental para nossa existência. O problema é quando esquecemos tanto do efêmero que nos damos ao luxo de sentir tédio ou perder este sagrado tempo de existência com futilidades. Ou seja, a toda hora, uns mais do que outros. É muito difícil ser tudo o que se pode e quer ser em uma existência.
Sinto que um fio sutil liga a maioria dos passageiros a nossos sonhos e expectativas: a noção de que a maior parte deles certamente estava em um momento especial da vida. Antes mesmo de conhecermos algumas das histórias, dava a sensação de que estariam a ponto de alcançar uma plenitude que estaria esperando do outro lado do Atlântico: férias, prêmios, estudos, pessoas queridas, reconhecimento, a volta para casa, enfim, a felicidade. Eles estavam quase.
E sabemos o que é isso. Queremos o gol. A vibração da torcida. E aí encontramos o decantado silêncio do Maracanã em 1950. Só que muito pior. Porque desse jogo não temos as regras básicas para saber quando se dá o apito do fim da partida.
Que as famílias sentem dor, é óbvio.
Que para os que não estão diretamente ligados à tragédia, essa dor se soma àquelas das outras diversas tragédias, e que a saída é tentarmos nos solidarizar dentro do possível, é óbvio também.
Resta torcer, dentro da nossa humilde ignorância, para que "do lado de lá" não exista a dor, e que de alguma forma desconhecida para nós, se encontre afinal a felicidade para todos os "passageiros", seja qual for o meio de "transporte " utilizado. Que eles sigam adiante em um caminho de luz, cada um tomado pela mão por seu anjo da guarda.
E num sonho, quem sabe seja possível, um dia, no decorrer da nova viagem, mandar um "cartão postal" dizendo apenas "Está tudo bem, saudades, beijos". Daqueles cartões que aliviam a gente mesmo com uma dor tranquila de quem prefere saber que o outro está bem e quem sabe, ainda se reencontra nas dobras do tempo.
Marcadores: dor, efêmero, passageiro, passagem, sonhos, vida, vôo 447
1 Comentários:
ESTIVE AQUI NO ESPAÇO VIRTUALMENTE PRESENTE PARA ENTENDER MELHOR ESSE ESPAÇO REALMENTE AUSENTE EM QUE CAIMOS NÓS QUE FICAMOS NÃO SEI ONDE E ELES QUE SE FORAM NÃO SABEMOS PARA QUANDO.
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